| Atenção Macunaíma da Silva: aquela idéia idiota dos teus economistas e da tua mídia que a economia brasileira seria menos afetada pela crise que as demais economias dominadas do BRIC (sigla referente a Brasil, Rússia, Índia e China, as quatro maiores emergentes) está definitivamente desmentida pelos fatos. É o que demonstram os números da OCDE em seu mais recente relatório dos indicadores antecedentes (06/mar/2009).
Isso é importante porque durante vários meses depois da eclosão da crise a economia brasileira era a única que ainda não aparecia nos radares da OCDE na perspectiva de “forte desaceleração”. Isso é coisa do passado. Agora a situação mudou. E o que mais chama atenção não é a mera entrada do Brasil na perspectiva sombria de “forte desaceleração”, mas da virulência com que isso está acontecendo. Vale a pena listar alguns números do relatório citado.
Para comparação acrescentamos EUA e México aos BRICs. Os primeiros, porque é da economia de ponta que se irradia as ondas magnéticas para o resto do sistema. O México, para medir melhor a intensidade da crise no Brasil em relação aos demais países da América Latina. Outra observação preliminar: para facilitar o entendimento, imaginemos esses índices da tabela acima como medições mensais da “pressão sangüínea” das diversas economias listadas. Também para efeito analítico, deve-se considerar que a elevação desses índices da tabela representa expansão das economias e redução representa desaceleração ou crise.
O que primeiro salta aos olhos desta tabela é que a situação do Brasil se agravou terrivelmente de Novembro 2008 para cá. Até então, como vimos em outros boletins, essas medições da OCDE ainda sinalizavam “expansão” para a maior economia da América Latina, enquanto todo o restante das grandes economias mundiais (incluindo as parceiras do BRIC) já sofriam as dores insuportáveis da ressaca cíclica com a perspectiva de “forte desaceleração”.
Os EUA já apresentavam queda de pressão contínua e crescente desde Janeiro de 2008. Entre Agosto e Setembro iniciou-se concretamente o desabamento. A China ainda resistia (aparentemente) até os meses de Maio e Junho. A partir de Agosto/Setembro sincronizou-se milimetricamente aos EUA (logo ultrapassando) e sinalizando com mais clareza o seu desabamento. Neste momento, a queda de pressão do país mais populoso do mundo (-14.81) só perde para a da Rússia (-19.36). A Rússia, como o Brasil, também estava exuberante até meados de 2008. Com a queda fulminante dos preços do petróleo e do gás natural, em Agosto/Setembro, desabou estrondosamente. A Índia foi a participante do BRIC que apresentou a evolução mais regular do desabamento, seguindo até nos números mensais a evolução dos EUA. A Índia é a mais previsível das grandes economias mundiais. Por isso a falta de interesse que desperta no dia-a-dia do mercado global.
O México, grande exportador de petróleo e de plataformas de exportação (maquiladoras), surpreendentemente sinaliza um desabamento muito menos catastrófico do que o Brasil. Vejam que a queda mexicana foi até agora muito mais lenta (-3.69 em fevereiro/2009) do que nas demais grandes economias listadas na tabela acima. Isso transparece na queda relativamente modesta de 2.7% do seu PIB no quarto trimestre 2008, frente aos 3.6% ocorridos no Brasil no mesmo período, como vimos no boletim anterior.
A pressão sanguínea do Brasil só sinalizou com clareza o seu desabamento na virada de Outubro (-2.76) para Novembro (-5.07). Os índices de Dezembro (-7.61) e de Janeiro 2009 (-10.14) sinalizam a reversão cíclica mais catastrófica, pela sua intensidade, de todas as demais economias mundiais (com exceção da Rússia, mas esta é um caso particular, devido ao peso do petróleo na economia). No próximo relatório da OCDE deverá ter caído abaixo do índice dos EUA e sincronizado catastroficamente com China e Rússia.
A marolinha prevista por Macunaíma da Silva, o folclórico presidente do Brasil, se iguala finalmente a marolinhas bem mais selvagens da Ásia e Leste Europeu, superando assim, pela primeira vez, a gravidade da “crise do Bush”, como ele se referia ao mais potente choque global de superprodução de capital desde os anos 1930.
* Este texto foi publicado no boletim Crítica Semanal da Economia. |