segunda-feira, 30 de março de 2009

Relatório da OIT sobre as tendências mundiais de emprego para 2009


O número de desempregados, trabalhadores pobres e de empregos vulneráveis aumentará consideravelmente devido à crise econômica mundial

GENEBRA (Notícias da OIT) - A crise econômica mundial poderá produzir um aumento considerável no número de pessoas que aumentarão as filas de desempregados, trabalhadores pobres e trabalhadores com empregos vulneráveis, afirma a Organização Internacional do Trabalho (OIT) em seu relatório Tendências Mundiais do Emprego.

Com base nos novos acontecimentos no mercado de trabalho devido à eficácia dos esforços de recuperação, o relatório assinala que o desemprego no mundo poderia aumentar em 2009 em relação a 2007 entre 18 e 30 milhões de trabalhadores e até além de 50 milhões caso a situação continue se deteriorando.

O relatório da OIT sustenta que, caso se produza este último cenário, cerca de 200 milhões de trabalhadores, em especial nas economias em desenvolvimento, poderiam passar a integrar as filas da pobreza extrema.

“A mensagem da OIT é realista, não alarmista. Nós enfrentamos uma crise de emprego de alcance mundial. Muitos governos estão conscientes da situação e estão tomando medidas, mas é necessário empreender ações mais enérgicas e coordenadas para evitar uma recessão social mundial. A redução da pobreza está em retrocesso e as classes médias em nível global estão se debilitando. As consequências políticas e de segurança são de proporções gigantescas”, declarou Juan Somavia, Diretor-Geral da OIT.

“A crise sublinha a importância da Agenda de Trabalho Decente da OIT. Muitos elementos desta Agenda estão presentes nas medidas atuais para fomentar a criação de emprego, intensificar e ampliar a proteção social e utilizar mais o diálogo social”, afirmou Somavia.

O Diretor-Geral fez um apelo para que na próxima reunião dos representantes do G-20 no dia 2 de abril em Londres, além de serem tratadas questões de caráter financeiro, seja alcançado de maneira urgente um acordo sobre as medidas prioritárias que devem ser adotadas para promover investimentos produtivos, os objetivos de trabalho decente e proteção social e a coordenação de políticas.

Principais prognósticos do relatório de Tendências Mundiais de Emprego
Este novo relatório atualiza as projeções preliminares publicadas em outubro do ano passado, nas quais se indicava que a crise financeira mundial poderia fazer com que o desemprego atingisse entre 15 e 20 milhões de pessoas em 2009. As conclusões fundamentais são as seguintes:

  • Com base nas previsões do FMI de novembro de 2008, a taxa de desemprego no mundo poderia aumentar em até 6,1% em 2009, em comparação com os 5,7% de 2007, o que representa 18 milhões de desempregados a mais em 2009 em relação a 2007.
  • Caso a situação econômica se deteriore além do previsto em novembro de 2008, o que é provável, a taxa de desemprego mundial poderia aumentar até 6,5%,o que representa 30 milhões a mais de pessoas sem emprego no mundo em relação 2007.
  • Em uma hipótese atual sobre a evolução mais pessimista, a taxa de desemprego poderia chegar a 7,1%, o que equivaleria a aumento de mais de 50 milhões de desempregados no mundo.
  • O número de trabalhadores pobres – isto é, de pessoas que não ganham o suficiente para manter-se a si mesmos e a suas famílias além do umbral da pobreza de 2 dólares ao dia por pessoa – pode aumentar até alcançar um total de 1,4 bilhão, o que representaria 45% do total de trabalhadores no mundo.
  • Em 2009, a proporção de pessoas com empregos vulneráveis - ou seja, trabalhadores que contribuem para o sustento familiar ou trabalhadores por conta própria com menor acesso às redes de seguridade que protegem contra a perda de renda durante tempos difíceis – poderia aumentar de maneira considerável no pior dos cenários e afetar até 53% da população com emprego.

Medidas em matéria de políticas
A crise econômica de 2008 aumentou a preocupação com as repercussões sociais da globalização, assunto sobre o qual a OIT vem advertindo há tempos. Ao sublinhar a necessidade da adoção de medidas para apoiar os grupos vulneráveis do mercado de trabalho, como os jovens e as mulheres, o relatório da OIT observa que existe um norme potencial de trabalho não aproveitado em todo o mundo. O crescimento e o desenvolvimento econômico poderiam ser muito maiores se fosse dada oportunidade às pessoas de ter um trabalho decente através de investimentos produtivos e políticas ativas dirigidas ao mercado de trabalho.

“A Agenda de Trabalho Decente é um marco político adequado para enfrentar a crise. Inclui uma mensagem poderosa: que o diálogo tripartite com as organizações de trabalhadores e empregadores deve desempenhar um papel essencial na abordagem da crise econômica e no desenvolvimento de políticas”, afirmou Juan Somavia.

De acordo com o que foi discutido pelo Conselho de Administração da OIT em novembro de 2008, o relatório enumera diversas medidas recomendadas pela OIT para a formulação de políticas que estão apoiando numerosos governos:

  • maior coberturas do seguro-desemprego e dos regimes de seguro, reconversão profissional dos trabalhadores que perderam o trabalho e proteção das pensões frente à queda catastrófica dos mercados financeiros;
  • investimento público em infraestruturas e habitação, infraestruturas comunitárias e empregos verdes, inclusive mediante obras públicas de emergência;
  • apoio às pequenas e médias empresas;
  • diálogo social em escala nacional, setorial e empresarial.

Se um grande número de países –usando suas próprias reservas acumuladas, empréstimos de emergência do FMI e mecanismos de ajuda mais fortes – aplicarem políticas coordenadas de acordo com a Agenda de Trabalho Decente da OIT, os efeitos da recessão nas empresas, sobre os trabalhadores e suas famílias poderiam ser amenizadas e a recuperação poderia ser melhor preparada.

FONTE: http://www.oitbrasil.org.br/get_2009.php

quarta-feira, 18 de março de 2009

Marolinhas Econômicas.



JOSÉ MARTINS.

Quando Luis Inácio Macunaíma da Silva garantiu há pouco tempo que no Brasil a crise global não passaria de uma marolinha ele estava sendo sincero. Acreditava no que estava afirmando. O problema é que ele vê a realidade econômica (e erra sempre) de acordo com a vertente mais vulgar da economia política dos capitalistas, conhecida nas faculdades de Economia como teoria econômica neoclássica, essa maçaroca ideológica do liberalismo econômico preferida por cem por cento dos capitalistas e por nove entre dez dos seus mais renomados economistas.

Nessa vertente vulgar (ou popular) da Economia Política o mandamento básico é que o consumidor individual – e seus variáveis níveis de consumo – é o soberano e determinante da dinâmica da economia. O presidente brasileiro, deslumbrado com tudo que tem cheiro de patrão, acha isso uma maravilha de pensamento. Então, quando a crise chega o que fazer? Muito simples: incitar fanaticamente os consumidores a não parar de comprar, assim a produção também não pararia e pronto, a crise desapareceria, ou melhor, não passaria de uma marolinha. É claro que neste incitamento ao consumo não pode faltar (e não faltou) o saque aos recursos públicos pelo sistema bancário e grandes empresas globais, tudo em nome de uma imaginária expansão do crédito ao consumo e outras reais (embora invisíveis) falcatruas entre o Estado e os mui competentes e inovadores empresários amantes do liberalismo econômico.

Por que o Brasil não quebra – Embora a situação econômica nacional já estivesse se agravando perigosamente desde o mês de setembro de 2008, essa idéia de marolinha verde-amarela era veiculada até poucos dias atrás com a maior cara de pau pela mídia capitalista. Em matéria de capa (“O Brasil e a Crise: dez razões para otimismo”) a maior revista semanal do País veiculava, por exemplo, uma enorme matéria de propaganda de supostas virtudes do liberalismo capitalista no Brasil:

“Seis meses depois da eclosão do turbilhão econômico que varreu Wall Street, com reflexos no mundo todo, a fase mais aguda da crise pode estar chegando ao "fim do começo" sem que os prognósticos mais funestos tenham se abatido sobre o Brasil. A economia brasileira já sofre, e sobre isso não há dúvida. Mas é consenso que o Brasil será um dos países menos afetados. Concordam com esse diagnóstico organizações como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e a OCDE, a organização econômica dos países ricos. Com a ajuda de alguns dos melhores economistas do país, VEJA escolheu as dez principais razões de otimismo, resumidas e classificadas por sua solidez. A reportagem avança com um alerta sobre o calcanhar-de- aquiles da economia brasileira, o descontrole do gasto público de péssima qualidade, e se completa com uma coluna também otimista do economista Maílson da Nóbrega, com o sugestivo título "Por que o Brasil não quebra". (Veja, 04/03/2009, edição 2012)

As dez principais razões de otimismo resumidas e classificadas pela revista por sua solidez se desmancharam no ar menos de uma semana depois desta edição e do visionário artigo (“Por que o Brasil não Quebra”) de Mailson da Nóbrega, um desses legítimos representantes daquela vertente vulgar da Economia Política citada acima.

Por que o Brasil está quebrando – Na semana seguinte àquela apologia da Veja às virtudes liberais da economia nacional, o País acordou assustado deste torpor ideológico com noticias verdadeiramente catastróficas da produção e do emprego, referentes ao quarto trimestre (outubro-dezembro) de 2008, divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Produto Interno Bruto (PIB) caiu 3,6% no trimestre, o que corresponde a uma taxa anualizada de quase 15%. Nos EUA, onde pretensamente a crise estaria atingindo mais pesadamente, essa taxa anualizada foi de 6,3%, menos da metade da ocorrida no Brasil. Essa parada mais profunda no Brasil no terceiro trimestre se explica também pela velocidade relativamente mais elevada da expansão nos trimestres anteriores. Veremos melhor esse processo no próximo boletim, comparando a quebra brasileira com as da China, Índia e Rússia (Brics).

O resultado mais catastrófico divulgado pelo IBGE foi aquele referente à queda da Indústria de 7,4% durante o 4% trimestre 2008. Foi a maior queda em doze anos. Em termos anualizados, a queda foi de 30%. Mesmo levando em consideração que esta queda é registrada em cima de uma forte base anterior de expansão, essa medida é verdadeiramente catastrófica. O setor das manufaturas apresentou uma queda mais elevada ainda (9,2%) que aquela catastrófica média da Indústria como um todo.

Mais catastrófica que a queda da Produção ainda foi a queda de 9,8% dos Investimentos industriais. No trimestre anterior (Julho-Setembro) ocorreu uma expansão desses investimentos na ordem de 8,4%. Esses dados de fratura exposta da produção e investimentos industriais sinalizam melhor que qualquer outro indicador a perspectiva catastrófica para a totalidade da economia no decorrer deste ano de 2009. Em nosso próximo boletim analisaremos com mais dados qualitativos e com mais profundidade essa realidade de quebra da economia nacional.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Banco Mundial diz que economia global vai encolher em 2009






Trabalhadores da construção
Num relatório divulgado domingo, o Banco Mundial previu que pela primeira vez desde a II Guerra Mundial a economia global e o comércio mundial vão contrair-se este ano. Até agora, mesmo as previsões mais pessimistas apontavam para um pequeno crescimento, baseado numa previsão de expansão, apesar de pequena, das economias fora dos EUA e Europa.

As nações da América Latina, da África e da Ásia oriental, adverte o relatório, segundo o New York Times, estão a ver o seu crescimento sufocado e o acesso ao crédito dificultado pela crise. Queda nas exportações, queda dos preços das principais matérias primas, declínio do investimento externo são factores apontados pelo Banco Mundial para sustentar as suas previsões pessimistas para as economias dos países em desenvolvimento.

Em Janeiro, o Fundo Monetário Internacional estimara um crescimento de 0.5% da economia mundial em 2009.

Robert B. Zoellick, presidente do Banco Mundial, pediu aos países mais desenvolvidos que criem um "fundo de vulnerabilidade" e que reservem uma parte dos fundos investidos em planos de estímulo às suas economias para ajudar outros países.

O relatório refere que 94 dos 116 países em vias de desenvolvimento estão a registar um abrandamento económico, com a pobreza a aumentar em 43 países.

Os países em desenvolvimento enfrentam uma falta de liquidez superior a 552 mil milhões de euros para pagar as importações e cumprir o pagamento das dívidas este ano, diz o Banco Mundial.



http://www.esquerda.net/

A bomba relogio






A região da Europa Central e Oriental é o indivíduo doente dos mercados emergentes. A situação na área é particularmente sombria. Seus problemas de saúde decorrem de dois fatores: o colapso das exportações e a significativa queda do afluxo de capital. A exportação foi o elemento-chave para o sucesso econômico no passado recente, responsável por 80% a 90% do Produto Interno Bruto (PIB) na República Tcheca, na Hungria e na Eslováquia. O maior mercado para a região é a Zona do Euro, imersa em recessão. Os capitais secaram em razão do aperto de crédito global. Como a Ásia em 1997-1998, a crise regional na Europa Oriental pode se espalhar de maneira perigosa. Como observou Kenneth Rogoff, professor da Harvard, em recente artigo no jornal The New York Times, “há um efeito dominó. Os mercados internacionais de crédito estão ligados e uma crise do tipo bola-de-neve na Europa Oriental e nos países bálticos pode provocar a queda dos bônus da cidade de Nova York”. Além da dependência das exportações, bancos ocidentais europeus, por meio de subsidiárias, têm forte exposição à região. Detêm de 60% a 90% da participação de mercado, o que pavimenta o caminho para o contágio. Esses países orientais tomaram 1,4 trilhão de dólares emprestados dos integrantes do Banco de Compensações Internacionais, a maior parte de bancos europeus ocidentais (1,3 trilhão de dólares). A Áustria é de longe o país mais exposto, por meio das instituições Raiffeisen e Erste Bank. A exposição dos bancos no país supera 70% do PIB. A Bélgica e a Suécia são as próximas na lista. Seus empréstimos correspondem de 20% a 25% do PIB. Há o temor de que, caso as dificuldades aumentem, tais bancos possam simplesmente se livrar das subsidiárias a qualquer preço e deixar a região. Outra preocupação é o fragmentado sistema regulatório da Europa. A solução para qualquer revés será provavelmente demorada e confusa. Os bancos europeus também estão expostos a economias vulneráveis fora da União Europeia (UE). A Rússia é o segundo maior dependente e tem 100 bilhões de dólares de dívida externa que precisam ser financiados. A Ucrânia, no entanto, representa o maior risco de contágio, particularmente se o Fundo Monetário Internacional (FMI) continuar a postergar a próxima parcela do empréstimo concedido ao país. Os bancos austríacos, franceses, suecos, italianos e alemães têm uma exposição conjunta de 30 bilhões de dólares na Ucrânia. O país tem de honrar 46 bilhões de dólares de sua dívida neste ano e a forte desvalorização da moeda local (hryvnia) fez disparar o custo da rolagem dos empréstimos. A série de protestos que pipocaram na Bulgária, na Lituânia e na Letônia em janeiro, que culminaram com a queda do governo letão, aumenta a percepção de que os países da Europa Oriental podem passar por um período de profunda desestabilização e insatisfação social, à medida que a crise se aprofunda e as taxas de desemprego disparam. Os protestos da população não foram um caso isolado na região. Houve manifestações nas ruas da Irlanda, Islândia, França, Grã-Bretanha e Grécia. Os governos orientais, no entanto, parecem mais vulneráveis, por disporem de opções limitadas de política econômica para enfrentar o mau tempo e não poderem lançar mão de estímulos fiscais, em razão das restrições orçamentárias. Medidas altamente impopulares, como a redução do salário do funcionalismo público, o aumento de impostos e o corte nos gastos com a seguridade social elevarão o descontentamento dos cidadãos da Hungria e da Romênia. A crise financeira exacerbou a divisão entre Ocidente e Oriente na UE. A cisão é visível nas persistentes desavenças entre a República Tcheca, a presidência da UE e a França, no que tange ao comércio e a pacotes protecionistas de salvação, que prejudicam as indústrias automotivas na Polônia, República Tcheca, Eslováquia e Hungria. Até agora, a UE tem ajudado os países economicamente mais frágeis, como a Letônia, a Polônia e a Hungria, com linhas de financiamento, além de pedir ao FMI que dobrasse os fundos a eles destinados. Há demandas por um suporte coordenado para a Europa Oriental, com o apoio do Banco Mundial. Se não houver possibilidade de ajuda extra, a crise poderá se aprofundar e resultar em uma separação entre a velha e a nova Europa. Neste caso, haverá mudanças estruturais no cenário político da banda oriental. Pode-se apostar no fortalecimento do nacionalismo, no surgimento de vozes céticas da região central do continente, particularmente na República Tcheca e na Polônia, e na ampliação, nos Estados Bálticos, do apoio a partidos pró-Rússia.