O governo francês teme que protestos até então isolados contra reformas que envolvem diferentes categorias possam se transformar em um amplo movimento de contestação social no país.
Nos hospitais, o número de grevistas é de 21,3%, segundo o governo - o dobro registrado em uma outra paralisação do setor, em 2007. Os sindicatos afirmam que o total de grevistas nos hospitais atinge 50%.
Também segundo o governo, 23% dos funcionários públicos estão em greve. Nas escolas, a paralisação é forte e representa um total de 35%, de acordo com o ministério da Educação (nas escolas primárias o índice de grevistas chega a 47%). Os sindicatos anunciam que o número de grevistas no setor da edução atinge pelo menos 60%.
Nos correios, 25% dos funcionários estão em greve. A companhia ferroviária SNCF informou que o número de grevistas atinge 36,7%, enquanto o maior sindicato da categoria anunciou uma adesão de 41%. A direção da empresa informou que nenhum TGV (trem de alta velocidade) que liga regiões fora da capital deve circular nesta quinta.
Em Paris, o metrô e os ônibus estão funcionando quase normalmente, apesar de em algumas linhas o tempo de espera chegar ao triplo do normal. Mas somente 50% de algumas linhas de trens de periferia da capital estão funcionando.
Nos aeroportos, 15% dos operadores de vôo estão em greve, de acordo com a Direção Geral da Aviação Civil. No aeroporto de Orly, 35% dos vôos foram cancelados até o momento e, em Charles de Gaulle, estão ocorrendo atrasos de meia hora, em média.
Crise econômica
A greve desta quinta-feira foi convocada para marcar a grande preocupação dos franceses com a crise econômica e exigir medidas de estímulo ao emprego e de melhora do poder aquisitivo, além da defesa do serviço público, já que o governo prevê demitir 30 mil servidores.
A greve geral, até o momento, está sendo considerada maior do que a realizada em maio de 2008. Mas ela teria aparentemente menor número de adesões, segundo o governo e sindicatos de empresas públicas, na comparação com outros protestos mais amplos na França.
Cerca de 200 manifestações ocorrem no país nesta quinta-feira. Várias delas já foram realizadas no interior da França. Em Bordeaux, o número de manifestantes foi estimado em 60 mil. A passeata parisiense teve início nesta tarde.
A situação social na França é bem diferente do período anterior à crise econômica mundial. Em julho passado, o presidente Sarkozy chegou a afirmar, com ironia, "que ninguém mais percebia quando há uma greve na França".
Trabalhadores do setor privado, que normalmente fazem menos greves, também se uniram ao movimento. Cerca de 10% dos empregados da montadora Renault estão em greve. No banco Crédit Lyonnais, a direção estima o número de grevistas em 16%.
A greve nacional conta com forte apoio da população. Segundo uma pesquisa do jornal Le Parisien, 69% dos franceses estão favoráveis à paralisação.
Sarkozy
Diante de tanta mobilização, o presidente Sarkozy decidiu finalmente moderar seu discurso. Na semana passada, ele havia dito "eu ouço, mas não levo em conta", ao se referir às diferentes críticas contra suas reformas.
Mas na terça-feira, 48 horas antes da greve, Sarkozy preferiu dizer que "ouvia as preocupações dos franceses e as levava em conta".
A última greve lançada por todas as centrais sindicais unidas ocorreu em maio de 2008, logo após a posse de Sarkozy, e reuniu entre 300 mil e 700 mil pessoas, segundo a polícia ou os organizadores, respectivamente.
Os números, ainda que divergentes, foram vistos como um certo fiasco na época. Eles são bem distantes dos 2 milhões de franceses que foram às ruas para protestar, em 2003, contra a reforma da aposentadoria e, sobretudo, em dezembro de 1995, contra a reforma da Seguridade Social.
A greve de 1995 paralisou os transportes públicos na França durante um mês e derrubou o primeiro-ministro da época, resultando em eleições legislativas antecipadas, que levaram os socialistas ao governo.
É justamente um amplo movimento nacional como o de 1995 que o presidente Sarkozy teme atualmente, como também o fortalecimento da esquerda francesa, hoje bastante dividida, mas que poderia formar uma frente unida contra o governo.
"Não está excluído que possa ocorrer nesse momento um grande movimento de contestação social como o de 1995", afirma o sociólogo Michel Lallement, do Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França.
Sarkozy baseia todo seu discurso político na idéia de "ruptura com o passado". Desde que assumiu, ele já realizou reformas nas mais diferentes áreas.
Mas especialistas estimam que em razão da crise econômica e do maior descontentamento da população com o aumento do desemprego, o presidente francês deixará de lado reformas consideradas mais polêmicas.
É a opinião do pesquisador Olivier Rosenberg, do Centro de Estudos da Vida Política da França (Cevipof). "Sarkozy realizou recentemente uma reforma envolvendo uma categoria de juízes, que causou protestos desses profissionais, mas isso afeta uma parte ínfima da população", diz ele.
Sarkozy já adiou, recentemente, a reforma do ensino secundário, que levou milhares de jovens às ruas, e também a da liberalização do trabalho aos domingos, que não teve o apoio sequer de membros de seu partido.
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