A região da Europa Central e Oriental é o indivíduo doente dos mercados emergentes. A situação na área é particularmente sombria. Seus problemas de saúde decorrem de dois fatores: o colapso das exportações e a significativa queda do afluxo de capital. A exportação foi o elemento-chave para o sucesso econômico no passado recente, responsável por 80% a 90% do Produto Interno Bruto (PIB) na República Tcheca, na Hungria e na Eslováquia. O maior mercado para a região é a Zona do Euro, imersa em recessão. Os capitais secaram em razão do aperto de crédito global. Como a Ásia em 1997-1998, a crise regional na Europa Oriental pode se espalhar de maneira perigosa. Como observou Kenneth Rogoff, professor da Harvard, em recente artigo no jornal The New York Times, “há um efeito dominó. Os mercados internacionais de crédito estão ligados e uma crise do tipo bola-de-neve na Europa Oriental e nos países bálticos pode provocar a queda dos bônus da cidade de Nova York”. Além da dependência das exportações, bancos ocidentais europeus, por meio de subsidiárias, têm forte exposição à região. Detêm de 60% a 90% da participação de mercado, o que pavimenta o caminho para o contágio. Esses países orientais tomaram 1,4 trilhão de dólares emprestados dos integrantes do Banco de Compensações Internacionais, a maior parte de bancos europeus ocidentais (1,3 trilhão de dólares). A Áustria é de longe o país mais exposto, por meio das instituições Raiffeisen e Erste Bank. A exposição dos bancos no país supera 70% do PIB. A Bélgica e a Suécia são as próximas na lista. Seus empréstimos correspondem de 20% a 25% do PIB. Há o temor de que, caso as dificuldades aumentem, tais bancos possam simplesmente se livrar das subsidiárias a qualquer preço e deixar a região. Outra preocupação é o fragmentado sistema regulatório da Europa. A solução para qualquer revés será provavelmente demorada e confusa. Os bancos europeus também estão expostos a economias vulneráveis fora da União Europeia (UE). A Rússia é o segundo maior dependente e tem 100 bilhões de dólares de dívida externa que precisam ser financiados. A Ucrânia, no entanto, representa o maior risco de contágio, particularmente se o Fundo Monetário Internacional (FMI) continuar a postergar a próxima parcela do empréstimo concedido ao país. Os bancos austríacos, franceses, suecos, italianos e alemães têm uma exposição conjunta de 30 bilhões de dólares na Ucrânia. O país tem de honrar 46 bilhões de dólares de sua dívida neste ano e a forte desvalorização da moeda local (hryvnia) fez disparar o custo da rolagem dos empréstimos. A série de protestos que pipocaram na Bulgária, na Lituânia e na Letônia em janeiro, que culminaram com a queda do governo letão, aumenta a percepção de que os países da Europa Oriental podem passar por um período de profunda desestabilização e insatisfação social, à medida que a crise se aprofunda e as taxas de desemprego disparam. Os protestos da população não foram um caso isolado na região. Houve manifestações nas ruas da Irlanda, Islândia, França, Grã-Bretanha e Grécia. Os governos orientais, no entanto, parecem mais vulneráveis, por disporem de opções limitadas de política econômica para enfrentar o mau tempo e não poderem lançar mão de estímulos fiscais, em razão das restrições orçamentárias. Medidas altamente impopulares, como a redução do salário do funcionalismo público, o aumento de impostos e o corte nos gastos com a seguridade social elevarão o descontentamento dos cidadãos da Hungria e da Romênia. A crise financeira exacerbou a divisão entre Ocidente e Oriente na UE. A cisão é visível nas persistentes desavenças entre a República Tcheca, a presidência da UE e a França, no que tange ao comércio e a pacotes protecionistas de salvação, que prejudicam as indústrias automotivas na Polônia, República Tcheca, Eslováquia e Hungria. Até agora, a UE tem ajudado os países economicamente mais frágeis, como a Letônia, a Polônia e a Hungria, com linhas de financiamento, além de pedir ao FMI que dobrasse os fundos a eles destinados. Há demandas por um suporte coordenado para a Europa Oriental, com o apoio do Banco Mundial. Se não houver possibilidade de ajuda extra, a crise poderá se aprofundar e resultar em uma separação entre a velha e a nova Europa. Neste caso, haverá mudanças estruturais no cenário político da banda oriental. Pode-se apostar no fortalecimento do nacionalismo, no surgimento de vozes céticas da região central do continente, particularmente na República Tcheca e na Polônia, e na ampliação, nos Estados Bálticos, do apoio a partidos pró-Rússia.
“...Se cada hora vem com sua morte se o tempo é um covil de ladrões os ares já não são tão bons ares e a vida é nada mais que um alvo móvel você perguntará por que cantamos ...cantamos porque chove sobre o sulco e somos militantes desta vida e porque não podemos nem queremos deixar que a canção se torne cinzas. ...”. ( Mário Benedetti)
segunda-feira, 9 de março de 2009
A bomba relogio
A região da Europa Central e Oriental é o indivíduo doente dos mercados emergentes. A situação na área é particularmente sombria. Seus problemas de saúde decorrem de dois fatores: o colapso das exportações e a significativa queda do afluxo de capital. A exportação foi o elemento-chave para o sucesso econômico no passado recente, responsável por 80% a 90% do Produto Interno Bruto (PIB) na República Tcheca, na Hungria e na Eslováquia. O maior mercado para a região é a Zona do Euro, imersa em recessão. Os capitais secaram em razão do aperto de crédito global. Como a Ásia em 1997-1998, a crise regional na Europa Oriental pode se espalhar de maneira perigosa. Como observou Kenneth Rogoff, professor da Harvard, em recente artigo no jornal The New York Times, “há um efeito dominó. Os mercados internacionais de crédito estão ligados e uma crise do tipo bola-de-neve na Europa Oriental e nos países bálticos pode provocar a queda dos bônus da cidade de Nova York”. Além da dependência das exportações, bancos ocidentais europeus, por meio de subsidiárias, têm forte exposição à região. Detêm de 60% a 90% da participação de mercado, o que pavimenta o caminho para o contágio. Esses países orientais tomaram 1,4 trilhão de dólares emprestados dos integrantes do Banco de Compensações Internacionais, a maior parte de bancos europeus ocidentais (1,3 trilhão de dólares). A Áustria é de longe o país mais exposto, por meio das instituições Raiffeisen e Erste Bank. A exposição dos bancos no país supera 70% do PIB. A Bélgica e a Suécia são as próximas na lista. Seus empréstimos correspondem de 20% a 25% do PIB. Há o temor de que, caso as dificuldades aumentem, tais bancos possam simplesmente se livrar das subsidiárias a qualquer preço e deixar a região. Outra preocupação é o fragmentado sistema regulatório da Europa. A solução para qualquer revés será provavelmente demorada e confusa. Os bancos europeus também estão expostos a economias vulneráveis fora da União Europeia (UE). A Rússia é o segundo maior dependente e tem 100 bilhões de dólares de dívida externa que precisam ser financiados. A Ucrânia, no entanto, representa o maior risco de contágio, particularmente se o Fundo Monetário Internacional (FMI) continuar a postergar a próxima parcela do empréstimo concedido ao país. Os bancos austríacos, franceses, suecos, italianos e alemães têm uma exposição conjunta de 30 bilhões de dólares na Ucrânia. O país tem de honrar 46 bilhões de dólares de sua dívida neste ano e a forte desvalorização da moeda local (hryvnia) fez disparar o custo da rolagem dos empréstimos. A série de protestos que pipocaram na Bulgária, na Lituânia e na Letônia em janeiro, que culminaram com a queda do governo letão, aumenta a percepção de que os países da Europa Oriental podem passar por um período de profunda desestabilização e insatisfação social, à medida que a crise se aprofunda e as taxas de desemprego disparam. Os protestos da população não foram um caso isolado na região. Houve manifestações nas ruas da Irlanda, Islândia, França, Grã-Bretanha e Grécia. Os governos orientais, no entanto, parecem mais vulneráveis, por disporem de opções limitadas de política econômica para enfrentar o mau tempo e não poderem lançar mão de estímulos fiscais, em razão das restrições orçamentárias. Medidas altamente impopulares, como a redução do salário do funcionalismo público, o aumento de impostos e o corte nos gastos com a seguridade social elevarão o descontentamento dos cidadãos da Hungria e da Romênia. A crise financeira exacerbou a divisão entre Ocidente e Oriente na UE. A cisão é visível nas persistentes desavenças entre a República Tcheca, a presidência da UE e a França, no que tange ao comércio e a pacotes protecionistas de salvação, que prejudicam as indústrias automotivas na Polônia, República Tcheca, Eslováquia e Hungria. Até agora, a UE tem ajudado os países economicamente mais frágeis, como a Letônia, a Polônia e a Hungria, com linhas de financiamento, além de pedir ao FMI que dobrasse os fundos a eles destinados. Há demandas por um suporte coordenado para a Europa Oriental, com o apoio do Banco Mundial. Se não houver possibilidade de ajuda extra, a crise poderá se aprofundar e resultar em uma separação entre a velha e a nova Europa. Neste caso, haverá mudanças estruturais no cenário político da banda oriental. Pode-se apostar no fortalecimento do nacionalismo, no surgimento de vozes céticas da região central do continente, particularmente na República Tcheca e na Polônia, e na ampliação, nos Estados Bálticos, do apoio a partidos pró-Rússia.
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