segunda-feira, 28 de junho de 2010

Quebrangulo devastada





Na sexta-feira do dia 19 de junho de 2010, os moradores da pacata cidade de Quebrangulo recebem o aviso de que devem abandonar suas casas o mais rápido possível e procurar abrigo em lugar seguro. Isso porque a cidade é cortada pelo rio Paraíba do Meio que nasce em Bom Conselho – PE. As fortes chuvas, a exemplo do ocorrido em várias cidades do Brasil nos últimos anos, fizeram o rio transbordar devastando todo o Centro da cidade, restando cerca de 20% da cidade, segundo os bombeiros.

A cidade de Quebrangulo, no estado de Alagoas, com população de cerca de 12.000 (doze mil) pessoas das quais os pequenos agricultores e comerciantes são maioria. A terra natal de Graciliano Ramos (autor de vidas secas e exímio político) “passa pela maior enchente já vista” por seus moradores, conta um residente de 102 anos, resgatado em casa.

A água do rio chegou a derrubar duas das três pontes da cidade, dentre elas uma que ainda nem havia sido inaugurada e serviria para a passagem do trem, a que sobrou encontrava com sua base comprometida, sendo esta o único meio após o desastre de ligar os dois lados da cidade. A exemplo do que se vem ocorrendo no Brasil, a população mais carente vem sofrendo com o descaso e abandono de seus Governantes após desastres naturais. Mais de 12000 pessoas se encontram desabrigadas, 135 desaparecidos e 29 mortos em todo o estado, e o que vemos são seus políticos se aproveitando do desastre para fazer disso seu palanque eleitoral para as eleições que estão por vir.


Emanuel Lucas de Barros
Acadêmico do curso Ciências Econômicas da UFAL

sexta-feira, 25 de junho de 2010

ATUALIDADE HISTÓRICA DA OFENSIVA SOCIALISTA - uma alternativa radical ao sistema parlamentar



http://boitempoeditorial.wordpress.com/2010/06/15/em-breve-lancamento-atualidade-historica-da-ofensiva-socialista-de-istvan-meszaros/#more-633


Em Atualidade histórica da ofensiva socialista – uma alternativa radical ao sistema parlamentar o marxista húngaro István Mészáros propõe um enfrentamento aos “graves problemas de nossa ‘política democrática’” como forma de responder à indagação: o que continua irremediavelmente errado no que se refere às genuínas expectativas socialistas? Fugindo de explicações simplistas que apontam “traições” no momento da chegada ao poder, Mészáros aponta para a necessidade de uma crítica profunda da concepção que vê na disputa dentro do sistema parlamentar um cenário de construção de transformações sociais.

Segundo ele, o discurso político tradicional proclama o sistema parlamentar como “o centro de referência necessário de toda mudança legítima”, tratando como tabu qualquer crítica que sugira algo além de pequenas mudanças em seu funcionamento. O autor de Para além do capital propõe que a alternativa necessária a esse sistema estaria ligada à “questão da verdadeira participação”, definida por ele nos termos de “autogestão plenamente autônoma da sociedade pelos produtores livremente associados em todos os domínios, muito além das restritas mediações do Estado político moderno”.

Mészáros defende a necessidade da criação de uma alternativa estrategicamente sustentável ao sistema parlamentar que liberte o movimento socialista da “camisa de força do parlamento burguês”. Num momento de grande contraste entre as promessas do passado e as condições realmente existentes, o que está em jogo é o “fenecimento do Estado”, uma vez que, apesar de dominar o parlamento, o capital é uma força “extraparlamentar por excelência”.

Assim, o filósofo pauta a construção de alternativas pela busca da “reconstituição radical historicamente viável da unidade indissolúvel das esferas reprodutiva material e política”. Para se transformar a forma como são tomadas as decisões em nossa sociedade, é necessário “mudar radicalmente o desafio ao próprio capital como o controlador geral da reprodução sociometabólica”, o que para ele é inconcebível “pela simples derrubada política do Estado capitalista, muito menos pela vitória sobre as forças de exploração no âmbito de determinada estrutura de legislação parlamentar”.

Esse lançamento tem por base a obra Historical actuality of the socialist offensive: alternative to parliamentarism (Londres, Bookmarks, 2010), composta pelo capítulo 18 do livro Para além do capital (São Paulo, Boitempo, 2002), acrescido de uma introdução especialmente preparada pelo autor para a nova edição.

Trecho da obra
O surgimento da classe operária na cena histórica foi apenas um acréscimo inconveniente ao sistema parlamentar, constituído bem antes de as primeiras forças organizadas do movimento operário tentarem manifestar em público os interesses vitais de sua classe. Do ponto de vista do capital, a resposta imediata a esse inconveniente mas crescente “incômodo” foi a rejeição e a exclusão dos grupos políticos operários. Mais tarde, entretanto, uma ideia muito mais adaptável foi instituída pelas personificações políticas mais ágeis do capital: domesticar de algum modo as forças do trabalho. Ela assumiu de início a forma do patrocínio parlamentar paternalista de algumas demandas da classe trabalhadora por partidos políticos burgueses relativamente progressistas e, mais tarde, a da aceitação da legitimidade dos partidos da classe trabalhadora no próprio Parlamento, embora, é claro, de uma maneira estritamente circunscrita, obrigando-os a se conformar às “regras democráticas do jogo parlamentar”.

Inevitavelmente, isso significou para os partidos operários apenas o “consentimento livre” da sua efetiva acomodação, mesmo que pudessem manter por um longo período a ilusão de que com o passar do tempo eles seriam capazes de corrigir radicalmente a situação pela ação parlamentar a seu próprio favor. Assim a força extraparlamentar original e potencialmente alternativa do trabalho transformou-se, na organização parlamentar, permanentemente desfavorecida. Embora esse curso de desenvolvimento pudesse ser explicado pelas fraquezas óbvias do trabalho organizado em seu início, argumentar e justificar desse modo o que havia realmente acontecido, nas atuais circunstâncias, é apenas mais um argumento a favor do beco sem saída da social-democracia parlamentar. Pois a alternativa radical de fortalecimento da classe trabalhadora para se organizar e se afirmar fora do Parlamento – por oposição à estratégia derrotista seguida ao longo de muitas décadas até a perda completa de direitos da classe trabalhadora em nome do “ganhar força” – não pode ser abandonada tão facilmente, como se uma alternativa de fato radical fosse a priori uma impossibilidade.

Sobre o autor
István Mészáros é um dos principais intelectuais marxistas contemporâneos. Nasceu no ano de 1930, em Budapeste, Hungria, onde graduou-se em filosofia e tornou-se discípulo de Georg Lukács no Instituto de Estética. Deixou o Leste Europeu após o levante de outubro de 1956 e exilou-se na Itália. Ministrou aulas em diversas universidades, na Europa e na América Latina. Recebeu o título de Professor Emérito de Filosofia pela Universidade de Sussex em 1991. Foi congratulado em 2009 com o Prêmio Libertador al Pensamiento Crítico, concedido pelo Ministério da Cultura da Venezuela, por sua obra O desafio e o fardo do tempo histórico (2007), cuja primeira edição mundial foi lançada em português. Entre seus livros, destacam-se também A crise estrutural do capital (2009) e Para além do capital – rumo a uma teoria da transição (2002), todos publicados pela Boitempo.

Ficha técnica
Título: Atualidade histórica da ofensiva socialista
Subtítulo: uma alternativa radical ao sistema parlamentar
Autor: István Mészáros
Tradução: Paulo Cesar Castanheira / Maria Orlanda Pinassi
Orelha: Ivana Jinkings
Páginas: 208
Preço: 34,00
ISBN: 978-85-7559-159-8
Editora: Boitempo

domingo, 20 de junho de 2010

Copa del Mundo: ¿diversión o maniobra diversiva de masas?


Guillermo Almeyra

Debo aclarar, antes que nada, que desde hace más de 75 años, o sea, casi desde que el amateurismo fue sustituido por el incipiente futbol profesional, soy hincha de ese deporte. Pero pienso que no darse cuenta de la utilización ideológica y política del campeonato mundial de futbol por el capitalismo, es dar prueba de enorme superficialidad y gran ingenuidad. Porque el futbol hace décadas que dejó de ser un deporte para transformarse en un negocio que mueve centenares de miles de millones de dólares y, en particular, desde la utilización que le dio el nazismo en los años treinta, en herramienta de propaganda política para obtener aunque sea una momentánea unión nacional detrás de los gobiernos.

No es necesario recordar la promoción del deporte de Estado por Mussolini, Hitler o Stalin, o lo que fue para la dictadura el Mundial de Futbol que Argentina ganó en Buenos Aires, mientras fuera de los estadios desaparecían decenas de miles de los mejores jóvenes y otros luchadores, entre ellos cientos de deportistas y atletas profesionales. Ese futbol donde unos cuantos muy bien pagados juegan ante millones de personas que jamás podrán practicar un deporte porque no tienen campos, salarios ni alimentación suficientes, ni tiempo libre al terminar sus trabajos extenuantes y mal pagados, y por eso simplemente miran la caja idiota que, de paso, se populariza y redime cada tanto de sus crímenes contra la conciencia política y la cultura populares, aunque aparezca como una diversión es, en realidad, una maniobra diversionista.

Como en la época de los emperadores romanos, si no hay mucho pan se da circo para que la gente no piense o, mejor dicho, que piense en cosas sin importancia, creyendo participar y ser sujeto en un espectáculo promovido por los dueños del poder para controlar incluso los sentimientos y dar una falsa sensación de alegría a las víctimas del capital, desviando su atención de las crisis, las matanzas, el desastre ecológico, la desocupación, las hambrunas, la explotación y la opresión.

Como las drogas, este tipo de futbol crea una burbuja, un mundo ficticio. Es más, hoy, en la mayoría de los países el futbol profesional, es el verdadero opio del pueblo, mucho más que la religión, pues ésta no llena la vida de los hinchas desde el lunes hasta el miércoles y desde el viernes hasta el fin de semana con la misma intensidad ni de la misma manera absoluta. También como las drogas, la prostitución o las industrias del juego y de los entretenimientos (o sea, de los instrumentos cotidianos de dominación del capital y de encarrilamiento del tiempo libre de las clases dominadas), ese tipo de deporte pasivo y tramposo es un excelente negocio.La FIFA (Federación Internacional del Futbol Asociado) posee más de mil millones de dólares y el año pasado ganó 300 millones simplemente cobrando comisiones a las federaciones integrantes. Y la compra-venta de jugadores –quienes encuentran en un mundial una vidriera para su exposición– mueven cientos de millones de dólares que quedan en manos de los dirigentes de los clubes, de los intermediarios y representantes, y de otros tantos coyotes, y sólo en muy pequeña medida llegan a los modernos gladiadores de este circo.

Por supuesto, aunque en todas partes del mundo se presenta la utilización capitalista de un deporte popular (Silvio Berlusconi es propietario del Milán y en ese carácter obtiene votos de imbéciles, y Mauricio Macri, el gobernador de la ciudad de Buenos Aires, fue elegido porque fue presidente del Boca Juniors, con el voto de miles de hinchas despistados), la magnitud de esa utilización varía de acuerdo con la orientación política de los diversos gobiernos.

En efecto, en todas partes se cuecen habas, pero, como decía Juan Gelman, en algunas se cuecen sólo habas… Los gobiernos mal llamados populistas en particular, intentan hacer del deporte (pasivo, televisivo) una herramienta ideológica para construir una efímera unión nacional y una fuente de gloria moderna y barata, de cartón pintado.

En Argentina, por ejemplo, el gobierno le quitó al monopolio Clarín el futbol por abonamiento televisivo (un negocio de 4 mil millones de dólares) y lo transmite gratis, para todos, y con motivo de este mundial regaló más de un millón de decodificadores digitales para que todos lo pudieran ver. Sin duda, esas medidas constituyen una democratización de los espectáculos. Sin embargo, hay un pero: el canal oficial –el 7– se saturó de futbol, eliminó los programas informativos y de opinión, así como los debates de todo tipo, y así dio un importante impulso a la estupidización de la opinión pública y a la utilización demagógica de los recursos públicos, que podrían haber sido destinados a usos culturales, reforzando la campaña diversionista del capital mundial.

De modo que, en la mayor crisis económica y social del capitalismo mundial y en una crisis ecológica que podría ser fatal para el destino de la civilización y del planeta, viviremos preocupados durante un mes por unas pelotas y, perdónenme la expresión, por unos pelotudos charlatanes y explotadores de la ingenuidad. También en esto, una civilización en profunda descomposición imita los métodos de la decadencia del siglo III de nuestra era, durante el Bajo Imperio Romano.

Guillermo Almeyra es miembro del Consejo Editorial de SinPermiso.


La Jornada, 13 junio 2010

sábado, 19 de junho de 2010

Ajude o povo de Alagoas.

Mais de 30 mil desabrigados e um total de 50 mil pessoas atingidas pelas chuvas no estado de Alagoas. Este é o balanço parcial divulgado pelo Corpo de Bombeiros Militar. Segundo a corporação cerca de 30 áreas de maior risco continuam sendo monitoradas pelas equipes de resgate e salvamento do CBMAL desde a noite de sexta-feira, 18 de junho, segundo dia de chuva.

Há registros de cinco pessoas desaparecidas até o momento. Uma delas foi uma criança que desapareceu após ser arrastada pela enxurrada no município de Joaquim Gomes. A criança teria sido levada pela correnteza do Rio Camaragibe, que inundou a cidade. Mais duas desapareceram em Paulo Jacinto e duas em Quebrangulo, com as mesmas características.

Segundo a Defesa Civil do Estado, o nível dos rios Mundaú e Canhoto subiu muito nas últimas horas, mas não há registro de mais desaparecidos ou feridos. Equipes da Defesa Civil foram encaminhadas para os municípios mais atingidos para ajudar no socorro às vítimas.

Os bombeiros receberam apoio do Instituto do Meio Ambiente (IMA) que cedeu navegações para auxiliar no resgates de pessoas ilhadas e transporte para abrigos. Até o momento três aeronaves também estão a serviço do resgate. “Há muita gente pendurada em árvores e tentando de proteger em telhados de casas que estão sendo resgatadas pelas aeronaves. Até amanhã teremos o reforço de outros dois helicópteros”, disse o major Sandro, da assessoria de comunicação do CBMAL.

Segundo o major o maior problema foi causado por causa das chuvas que caíram Pernambuco. “Aqui também choveu bastante, mas nosso maior problema foi a chuva em Pernambuco, que provocou as inundações dos rios que passam por aqui”, afirmou.

Em União dos Palmares, segundo os bombeiros, os tanques de uma usina de armazenamento de álcool foram arrastados pela enxurrada. Os equipamentos, com cerca de 20 metros de diâmetro e 20 metros de altura, estavam vazios e seguiram pelo rio em direção à cidade de Branquinha (AL).
________________________
O Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas e a Defesa Civil Estadual solicita o apoio de toda a sociedade civil, entidades, empresas e órgãos da administração pública e privada no sentido de fazer doações em forma emergencial de alimentos não perecíveis e água potável para subsidiar as famílias atingidas pelas fortes chuvas em nosso Estado. O Comando Geral do Corpo de Bombeiros Militar agradece a disponibilidade e sensibilização de todos os cidadãos engajados nesta campanha de solidariedade.

Os donativos poderão ser entregues nas sedes dos quartéis da capital e do interior:

Capital:

1º Grupamento de Bombeiros Militar (1º GBM) – Rodovia 316, Km 14, Tabuleiro dos Martins, próximo a Policia Rodoviária Federal, 3315-2900 / 3315-2905.

Grupamento de Socorros de Emergência (GSE) – Conjunto Senador Rui Palmeira, S/N, 3315-2400.

Subgrupamento Independente Ambiental (SGIA) – Av. Dr. Antônio Gouveia, S/A, Pajuçara, próximo ao Iate Clube Pajuçara, 3315-9852.

Quartel do Comando Geral (QCG) – Av. Siqueira Campos, S/N, Trapiche da Barra, próximo a Pecuária, 3315-2830.

Defesa Civil Estadual (CEDEC) - Rua Lanevere Machado n.º 80, Trapiche da Barra, próximo a Pecuária, 3315-2822 / 3315-2843.

Grupamento de Salvamento Aquático (GSA) – Av. Assis Chateaubriand, S/N, Pontal, próximo a Braskem, 3315-2845.

Interior:

2º Grupamento de Bombeiros Militar – Maragogi, (82) 3296-2026 / 3296-2270.

6º Grupamento de Bombeiros Militar – Penedo, (82) 3551-7622 / (82) 3551-5358.

7º Grupamento de Bombeiros Militar – Arapiraca e Palmeira dos Índios, (82) 3522-2377, (82) 34212695.

9° Grupamento de Bombeiros Militar – Santana do Ipanema e Delmiro Gouveia, (82) 3621-1491 / (82) 3621-1223.

Saiba o que é o capitalismo

Atílio Boron
Sex, 04 de junho de 2010 11:35
Atilio Boron
Atilio Boron
O capitalismo tem legiões de apologistas. Muitos o são de boa fé, produto de sua ignorância e pelo fato de que, como dizia Marx, o sistema é opaco e sua natureza exploradora e predatória não é evidente aos olhos de mulheres e homens. Outros o defendem porque são seus grandes beneficiários e amealham enormes fortunas graças às suas injustiças e iniqüidades. Há ainda outros ('gurus' financeiros, 'opinólogos' e 'jornalistas especializados', acadêmicos 'pensantes' e os diversos expoentes desse "pensamento único") que conhecem perfeitamente bem os custos sociais que o sistema impõe em termos de degradação humana e ambiental. Mas esses são muito bem pagos para enganar as pessoas e prosseguem incansavelmente com seu trabalho. Eles sabem muito bem, aprenderam muito bem, que a "batalha de idéias" para a qual nos convocou Fidel é absolutamente estratégica para a preservação do sistema, e não aplacam seus esforços.

Para contra-atacar a proliferação de versões idílicas acerca do capitalismo e sua capacidade de promover o bem-estar geral, examinemos alguns dados obtidos de documentos oficiais do sistema das Nações Unidas. Isso é extremamente didático quando se escuta, ainda mais no contexto da crise atual, que a solução dos problemas do capitalismo se consegue com mais capitalismo; ou que o G-20, o FMI, a Organização Mundial do Comércio e o Banco Mundial, arrependidos de seus erros passados, poderão resolver os problemas que asfixiam a humanidade. Todas essas instituições são incorrigíveis e irreformáveis, e qualquer esperança de mudança não é nada mais que ilusão. Seguem propondo o mesmo, mas com um discurso diferente e uma estratégia de "relações públicas" desenhada para ocultar suas verdadeiras intenções. Quem tiver duvidas, olhe o que estão propondo para "solucionar" a crise na Grécia: as mesmas receitas que aplicaram e continuam aplicando na América Latina e na África desde os anos 80!

A seguir, alguns dados (com suas respectivas fontes) recentemente sistematizados pelo CROP, o Programa Internacional de Estudos Comparativos sobre a Pobreza, radicado na Universidade de Bergen, Noruega. O CROP está fazendo um grande esforço para, desde uma perspectiva crítica, combater o discurso oficial sobre a pobreza, elaborado há mais de 30 anos pelo Banco Mundial e reproduzido incansavelmente pelos grandes meios de comunicação, autoridades governamentais, acadêmicos e "especialistas" vários.

População mundial: 6.800 bilhões, dos quais...

* 1,020 bilhão são desnutridos crônicos (FAO, 2009)

* 2 bilhões não possuem acesso a medicamentos (http://www.fic.nih.gov/)

* 884 milhões não têm acesso à água potável (OMS/UNICEF, 2008)

* 924 milhões estão "sem teto" ou em moradias precárias (UN Habitat, 2003)

* 1,6 bilhão não têm eletricidade (UN HABITAT, "Urban Energy")

* 2,5 bilhões não têm sistemas de drenagens ou saneamento (OMS/UNICEF, 2008)

* 774 milhões de adultos são analfabetos (http://www.uis.unesco.org/)

* 18 milhões de mortes por ano devido à pobreza, a maioria de crianças menores de 5 anos (OMS).

* 218 milhões de crianças, entre 5 e 17 anos, trabalham precariamente em condições de escravidão e em tarefas perigosas ou humilhantes, como soldados, prostitutas, serventes, na agricultura, na construção ou indústria têxtil (OIT: A eliminação do trabalho infantil: um objetivo ao nosso alcance, 2006).

Entre 1988 e 2002, os 25% mais pobres da população mundial reduziram sua participação na renda global de 1,16% para 0,92%, enquanto os opulentos 10% mais ricos acrescentaram mais às suas fortunas, passando de dispor de 64,7% para 71,1% da riqueza mundial. O enriquecimento de uns poucos tem como seu reverso o empobrecimento de muitos.

Somente esse 6,4% de aumento da riqueza dos mais ricos seria suficiente para duplicar a renda de 70% da população mundial, salvando inumeráveis vidas e reduzindo as penúrias e sofrimentos dos mais pobres. Entenda-se bem: tal coisa se conseguiria se simplesmente fosse possível redistribuir o enriquecimento adicional produzido entre 1988 e 2002 dos 10% mais ricos. Mas nem sequer algo tão elementar como isso é aceitável para as classes dominantes do capitalismo mundial.

Conclusão: se não se combate a pobreza (que nem se fale de erradicá-la sob o capitalismo) é porque o sistema obedece a uma lógica implacável centrada na obtenção do lucro, o que concentra riqueza e aumenta incessantemente a pobreza e a desigualdade sócio-econômica.

Depois de cinco séculos de existência eis o que o capitalismo tem a oferecer. O que estamos esperando para mudar o sistema? Se a humanidade tem futuro, será claramente socialista. Com o capitalismo, em compensação, não haverá futuro para ninguém. Nem para os ricos nem para os pobres. A frase de Friedrich Engels e também de Rosa Luxemburgo, "socialismo ou barbárie", é hoje mais atual e vigente do que nunca. Nenhuma sociedade sobrevive quando seu impulso vital reside na busca incessante do lucro e seu motor é a ganância. Mais cedo que tarde provoca a desintegração da vida social, a destruição do meio ambiente, a decadência política e uma crise moral. Ainda temos tempo, mas já não tanto.

Atilio A. Boron é diretor do PLED, Programa Latinoamericano de Educación a Distancia em Ciências Sociais, Buenos Aires, Argentina.


A eternidade o espera nos corações e mentes dos povos do mundo.

Poema à boca fechada


Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
José Saramago

quinta-feira, 17 de junho de 2010

A Copa do Mundo e a romantização da pobreza


Thiago Hastenreiter, de Santos (SP)



• O mundo assiste o continente africano sediar pela primeira vez a Copa do Mundo de futebol. O berço da humanidade, que teve suas riquezas naturais saqueadas, seus homens e mulheres raptados e transformados em escravos-mercadorias, andava esquecido, submersa nas epidemias de AIDS, até que a África do Sul se tornasse palco do maior espetáculo da Terra.

Muitos duvidaram desse feito, inclusive o atrapalhado (com as palavras) Pelé. Em janeiro desse ano, o ônibus da delegação do Togo, que participava da Copa Africana, sofreu um atentado terrorista realizado por uma organização angolana, o que levou muita desconfiança sobre as reais possibilidades da África do Sul sediar um evento desse porte.

Mas hoje a Copa é uma realidade e África do Sul pavimenta uma estrada que será percorrida amanhã pelo Brasil. O mundo parece redescobrir a África, e a mídia trata de romantizá-la, destacando a euforia de seu povo, suas danças típicas, sua fauna exuberante, seus rituais religiosos obscurantistas e suas “harmoniosas” vuvuzelas.

Os responsáveis pela condição de lumpenização do continente africano, onde as populações esperam cair dos céus os mantimentos para sobreviverem mais um dia, são os mesmos que exaltam a riqueza cultural desse povo sofrido. A pobreza aparece como algo abstrato, vindo quase do além, e é na prática varrida para debaixo do tapete. Para quem não sabe, milhares de famílias foram removidas de suas residências e submetidas a condições ainda piores, em casas de lata de 18m², para não estragar a paisagem no percurso entre os aeroportos e os grandes centros.

Muito se falou das greves da construção civil que ameaçaram o levantamento dos novos estádios meses antes do início da Copa, mas não foi divulgado em que condições trabalhavam esses operários. O salário desses trabalhadores era de 4,50 rands, ou R$1,10 por hora! Esses operários que ergueram verdadeiros santuários do futebol ficarão do lado de fora dos estádios, e assistirão às partidas pela televisão. Ao mesmo tempo tão perto e tão longe do show.

O clima passado pelos repórteres estrangeiros é de como se tivessem vivendo uma aventura, um safári onde, a todo momento, esbarram com o exótico povo africano. O regime do Apartheid, de segregação racial e social, abolido oficialmente em 1990, ganhou uma nova roupagem, muito mais amena, pretensamente mais simpática, mas não menos preconceituosa.

Tratam o racismo como um problema do passado. Antes havia banheiros separados para brancos e para negros. Escolas para brancos e escolas para negros. E hoje todos freqüentam os mesmos lugares. Isso é mentira. Os negros continuam guetizados em seus bairros e ocupam os mais baixos estratos sociais. Enquanto a elite, dona das grandes corporações capitalistas, é branca. Isso é um fato.

Sem dúvida, a revolução democrática que colocou abaixo o regime segregacionista do Apartheid foi uma vitória colossal das massas. No entanto, essa revolução que poderia ganhar um conteúdo também social, foi freada e desviada para dentro da institucionalidade burguesa, através da eleição de Nelson Mandela em 1994. Aí está o motivo pelo qual o imperialismo reverencia tanto a figura de Mandela. Ninguém melhor que o líder negro, que esteve preso por mais de 30 anos, que tinha como lema "Unam-se! Mobilizem-se! Lutem! Entre a bigorna que é a ação da massa unida e o martelo que é a luta armada devemos esmagar o apartheid!", para pregar a conciliação e a paz entre as classes historicamente antagônicas.

Terminada a Copa da África os olhos se voltarão para o Brasil. 2014 é logo ali. Aí, mais uma vez, a pobreza será relativizada e ganhará a melodia do samba, da “mulata” e do futebol.


www.pstu.org.br

domingo, 13 de junho de 2010

O Chamado Governo Mundial se reuniu em Barcelona

Randy Alonso Falcón
Qui, 10 de junho de 2010 17:45



Chegaram ao Hotel Dolce em carros de luxo com vidros escuros ou em helicópteros. Passaram sem problemas e no anonimato pela férrea barreira policial que controlava o acesso à instalação turística do afamado povoado de Sitges, em Barcelona, Espanha. Eram os mais de 100 hierarcas da economia, das finanças, da política e dos meios de comunicação, da América do Norte e da Europa, que vieram a esse lugar para a reunião anual do Clube de Bilderberg, uma espécie de governo mundial na penumbra.

Durante o fim de semana, os encobertos personagens trocaram opiniões entre si, no mais estrito sigilo, como o exigem os cânones do seleto e quase clandestino fórum.

Um Clube do capital e contra o comunismo

O exclusivo Clube que se reuniu em Sitges nasceu em 1954. Surgiu da ideia do conselheiro e analista político Joseph Retinger1. Seus impulsionadores iniciais foram o magnata norte-americano David Rockefeller2, o Principe Bernardo da Holanda3 e o Primeiro-ministro belga Paul Van Zeeland4 . Seus propósitos fundacionais eram combater o crescente "anti-norte-americanismo" que havia na Europa da época e enfrentar a União Soviética e o comunismo, que cobrava força no Velho Continente.

Para isso, convocar-se-ia a flor e a nata do empresariado, das finanças, da política e dos meios de comunicação, os quais discutiriam e buscariam consensos sobre os grandes temas de interesse para o capitalismo estadunidense e europeu, e transmitiriam suas visões econômicas e energéticas e suas estratégias política e militar aos governos e organismos internacionais.

Hotel Bilderberg,  Holanda
Hotel Bilderberg, Holanda
Sua primeira reunião se celebrou no Hotel Bilderberg, em Osterbeck, Holanda, em 29 e 30 de maio de 1954. Daí saiu o nome do grupo, que desde então se reúne anualmente, com a exceção de 1976.

Para sua conferência privada anual, o grupo convida umas 100 personalidades influentes, exclusivamente da Europa e da América do Norte. Há um núcleo de filiados permanentes, que são os 39 membros do Steering Comittee; o resto são os convidados. Na convocatória dos eleitos, diz-se que a organização exige que ninguém "conceda entrevistas" nem revele nada do que "um participante individual diga". É requisito imprescindível um domínio excelente da língua inglesa para poder tomar parte ativa nos debate, pois não há tradutores.

Até 1976, o Grupo Bilderberg foi presidido pelo príncipe Bernardo da Holanda. À raíz do escândalo suscitado pelos subornos da Companhia Lockheed, nos quais se viu envolvido como principal implicado, ele deixou a presidência do Grupo, sendo substituído por Douglas Home, ministro do Exterior britânico, que permaneceu no cargo até 1980. A Home lhe sucedeu Walter Scheel, ministro de Assuntos Exteriores e, posteriormente, presidente da República Federal Alemã, que assumiu a chefia até 1985, ano em que foi relevado pelo britânico Eric Roll, presidente do grupo bancário S.G.Warburg. Este último deu passagem em 1989 a Peter Rupert, mais conhecido como Lord Carrington, ex-secretário-geral da OTAN e ex-ministro de vários governos britânicos.

O atual presidente do Clube é o político e negociante belga Étienne Davignon5.

Poder, Intriga e Influência

Não se sabe a ciência certa o alcance real do grupo. Os estudiosos do ente dizem que não é casualidade que se reúnam sempre pouco antes que o G-8 (G-7 anteriormente) e que buscam uma nova ordem mundial de governo, exército, economia e ideología únicos.

Em tal sentido, resultam bem esclarecedoras as expressões que não faz muito tempo emitiram dois destacados bilderbergers:

David Rockefeller
David Rockefeller

David Rockefeller disse, numa reportagem, à revista "Newsweek": "Algo deve substituir os governos, e o poder privado parece-me a entidade adequada para fazê-lo".

Por sua parte, o banqueiro James P. Warburg afirmou: "Goste ou não goste, teremos um governo mundial. A única questão é se será por concessão ou por imposição".

A jornalista Caroline Moorehead (The Times) qualificou o grupo em 1977 como "um clube exclusivo, quiçá sem poder, mas, sem dúvida, com influência", e afirmou que "se reúnem secretamente para planejar acontecimentos que mais tarde parecem que simplesmente aconteceram".

Pilar Urbano6, biógrafa da Ranhia da Espanha, disse que ouviu a soberana falar sobre o Clube faz uma década e desde então aumentou seu interesse por essa entidade, na mesma medida em que as coisas que se diziam em suas reuniões cumpriam-se inexoravelmente. "Sim... Há dez anos debate-se uma coisa que logo termina por se levar a efeito. Começa-se a pensar que não se está ante simples opinões ou conjeturas, mas ante um projeto". Como exemplo desses temas elocubrados nas reuniões de Bilderberg, a escritora assinala "a grande alta que experimentou o preço do petróleo, a liderança de Merkel ou o triunfo de Obama estavam cronometrados e se foram cumprindo como numa ginástica sueca".

"Eles conheciam com 10 meses de antecedência a data exata da invasão do Iraque; também o que se passaria com a borbulha imobiliária. Com informações como essas, pode-se ganhar muito dinheiro em toda classe de mercados. E é o que falamos de clubes de poder e de saber".

Para os estudiosos, um dos temas que mais preocupa o Clube é a "amenaça econômica" que significa a China e sua repercussão nas sociedades norte-americana e europeia.

Sua influência na elite, demonstram-na alguns com o fato de que Margaret Thatcher, Bill Clinton, Anthony Blair e Barack Obama estiveram entre os convidados do Clube antes de que fossem eleitos ao mais alto cargo governamental na Grã Bretanha e nos Estados Unidos. Obama acudiu à reunião de junho de 2008 na Virgínia, EEUU, cinco meses antes de seu triunfo eleitoral, e sua vitória se prognosticava já desde a reunião de 2007.

Nas reuniões do Grupo estiveram também Gerald Ford, Henry Kissinger, Hillary Clinton, Znibiew Brzezinski, Sandy Berger, John Kerry e outros influentes personagens estadunidenses.

Conciliábulo em Barcelona

Hotel Dolce, em Sitges
Hotel Dolce, em Sitges
Pouco se disse do encontro em Sitges. A agenda era secreta; a lista de convidados, confusa; as conclusões, para exclusivo conhecimento dos participantes.

Em meio a tanto sigilo, a imprensa foi tirando nomes por aqui e por ali. Entre os que chegaram a Sitges estavam importantes empresários como os presidentes de empresas como FIAT, Coca Cola, France Telecom, Telefónica de España, Suez, Siemens, Shell, Novartis e Airbus.

Também se reuniram gurus das finanças e da economia como o famoso especulador George Soros, os assessores econômicos de Obama Paul Volcker e Larry Summers, o flamante Secretário do Tesouro Britânico George Osborne, o ex-presidente de Goldman Sachs e British Petroleum Peter Shilton, o ex-comissário europeu e ex-ministro espanhol Pedro Solbes, os diretores de Goldman Sachs, Morgan Stanley e Societé Gènérale. Junto com eles, o Presidente do Banco Mundial Robert Zoellic, o Diretor Geral do FMI Dominique Strauss-Kahn, o Diretor da Organização Mundial do Comércio Pascal Lamy, o Presidente do Banco Central Europeu Jean Claude Trichet, o Presidente do Banco Europeu de Investimentos Philippe Maystad. As finanças hispânicas estiveram representadas por Ana Patricia Botín, presidenta do Banesto e filha do Presidente do Banco Santander, Juan María Nin, Diretor Geral da Caixa, e Matías Rodríguez Inciarte, Vice-presidente do Santander.

Alguns meios de comunicação falam da presença do Secretário norte-americano do Tesouro Timothy Gaithner, outros assinalam a participação de Peter Orzag, diretor do Escritório de Administração e Orçamento.

Governantes e políticos estiveram também no encontro catalão. Os jornais falam do Conselheiro de Segurança Nacional General James Jones, do Subsecretário de Estado norte-americano James Stesnberg, do funesto Henry Kissinger, do enviado especial norte-americano para o Afeganistão e o Paquistão Richard Holbrooke, do Presidente da Áustria Heinz Fischer, do Primeiro-ministro francês Francois Fillon, do Ex-primeiro-ministro italiano e Ex-presidente da Comissão Europeia Romano Prodi, do Vice-presidente da Comissão Europeia Joaquín Almunia e do Presidente da Generalitat catalã José Montilla.

O poder militar enviou alguns de seus falcões: o ex-secretário de Defesa de Bush Donald Rumsfeld, seu subalterno Paul Wolfowitz, o Secretário Geral da OTAN Anders Fogh Rasmussen e seu antecessor no cargo Jaap de Hoop Scheffer.

Os meios de manipulação (ditos de comunicação) jogaram também neste poder na penumbra. Não podiam faltar o Presidente e o Conselheiro Delegado do Grupo Prisa (dono do jornal espanhol El País) Ignacio Polanco e Juan Luis Cebrián, e os representantes de outros grandes meios como The Washington Post, The New York Times, The Economist, Die Zelt e Le Nouvel Observateur. Tampouco poderia faltar ao encontro o magnata dos meios de comunicação Rupert Murdoch.

As monarquias europeias também abençoaram a reunião com sua presença. A Rainha Sofía da Espanha, a Rainha Beatriz da Holanda e o Príncipe Felipe da Bélgica tomaram parte nos debates.

O magnata da era digital Bill Gates foi o único participante que falou algo para a imprensa antes do encontro. "Sou um dos que estará presente", disse, e anunciou que "Sobre a mesa haverá muitos debates financeiros".

Que haverá saído dos segredos de tantos personagens poderosos e influentes?

Irradiando poder e crise

Esta é a segunda vez que a Espanha acolhe o Clube de Bilderberg. Anteriormente, foi no balneário de La Toja, em Pontevedra, Galicia, em 1989, sob o mandato de Felipe González.

Policiais uniformizados  isolaram a zona onde se reuniu o exclusivo Grupo de Bilderberg
Policiais uniformizados isolaram a zona onde
se reuniu o exclusivo Grupo de Bilderberg

Para esta ocasião, o encontro custou uns 150 mil euros diários ao governo de Zapatero. Mais de 300 membros da Policia Nacional, a local, a Guarda Civil e os Mossos d´Esquadra formaram uma muralha impenetrável ao redor do luxuoso hotel de Sitges. Os vizinhos do lugar precisaram ser identificados e proibiram-lhes as visitas e o uso de câmaras fotográficas durante esses dias.

O Sindicato de Mossos d´Esquadra emitiu na sexta-feira, 4 de junho, um comunicado denunciando "o grande desperdício" que as medidas de segurança implicaram. "Não se entende que em plena crise, quando os governos impuseram um corte salarial a todos os funcionários, escudando-se na crise econômica, agora se dedique a enviar centenas de mossos a cobrir um ato não oficial e a gerar um gasto cifrado em milhares de euros que deverão ser pagos pelos fundos públicos".

E, precisamente, da crise que vive Espanha e uma boa parte da Europa, diz-se que se falou entre os Bilderbergs. O Presidente José Luis Rodríguez Zapatero compartilhou umas horas com eles, falando sobre os planos anti-crise da Espanha e tratando de gerar confiança nos mercados e nos investidores internacionais, a poucos dias do vencimento de uma boa porcentagem da dívida espanhola. Dando uma mão ao Presidente do Gobierno em suas explicações aos notáveis, esteve seu braço direito Bernardino León, Diretor Geral da Presidência, assíduo participante do Clube nos últimos anos

O jornal britânico The Guardian viu o encontro espanhol dos poderosos com fina ironia: "No ano passado o Bildeberg teve lugar em Vouligmeni, na costa sul da Grécia. Participaram o ministro da Economía, o de Assuntos Exteriores e o governador do Banco Nacional da Grécia. Poucos meses depois, a Grécia estava em bancarrota e Atenas em chamas. Assim que: boa sorte, Madrid!"

Ditadura Global

Centenas de ativistas se  reuniram em Sitges para portestar contra a reunião
Centenas de ativistas se reuniram em
Sitges para protestar contra a reunião

Os participantes de Sitges já regressaram a casa. Nada se sabe dos resultados finais do encontro. O concilio dos poderosos não deve contas a ninguém. Já aparecerão indícios no futuro.

Os especuladores da notícia falam que o poder na penumbra analisou o futuro do euro e as estratégias para salvá-lo, a situação da economia europeia e o rumo da crise. Sob a religião do mercado, e com o auxílio dos drásticos cortes sociais, se quer continuar prolongando a vida do doente.

O Coordenador da Esquerda Unida Cayo Lara definiu com clareza o mundo que nos impõem os Bildeberg: "Estamos no mundo ao revés; as democracias controladas, tuteladas e pressionadas pelas ditaduras dos poderes financeiros".

Outro dos temas abordados parece ser o Afeganistão. Richard Holbrooke7 declarou na segunda-feira em conferência de imprensa que na reunião do Clube jantou com Zapatero, falaram sobre a situação no país asiático e agradeceu- lhe pela presença militar espanhola naquela nação.

O mais perigoso, que saiu à luz no jornal espanhol Público, é o consenso majoritário dos membros do Clube a favor de um ataque norte-americano ao Irã, ainda que alguns convidados europeus tenham expressado sua oposição. Será o prelúdio da nova guerra do império? Vale recordar que os membros do Clube sabíam a data exata da invasão ao Iraque de 2003 dez meses antes de que ocurrera. E agora?

Notas:

1 Józef Hieronim Retinger (Joseph Retinger, 1888-1960), de origem judaico-polaca, foi assessor de assuntos internacionais e lobista fundador do Movimento Europeu, antecessor da União Europeia, co-fundador da Liga Europeia de Cooperação Econômica e figura chave na criação do clube Bilderberg. Foi também um dos mais influentes lobistas internacionais do sionismo.

2 David Rockefeller, nascido em 12 de junho de 1915, é um célebre banqueiro estadunidense, patriarca da conhecida família Rockefeller. É o único filho vivo de John D. Rockefeller Jr. e neto do multibilionário magnata do petróleo John D. Rockefeller, fundador da Standard Oil. Seus cinco irmãos, já falecidos, foram: Abby, John D. Tercero, Nelson, Laurance e Winthrop.

3 Bernardo de Lippe-Biesterfeld (1911-2004) foi príncipe consorte dos Países Baixos, após seu matrimônio com a rainha Juliana dos Países Baixos, e é pai da atual soberana Beatriz I dos Países Baixos. Nasceu com o nome e título de Sua Alteza Real o Conde Bernhard Leopold Friedrich Eberhard Julius Kurt Karl Gottfried Peter de Lippe-Biesterfeld (posteriormente elevado ao grau de Príncipe).

4 Paul van Zeeland (1893 - 1973) foi um político belga que ocupou o lugar de primeiro-ministro da Bélgica (ou Ministro-Presidente) de 25 de março de 1935 a 24 de novembro de 1937.

5 Étienne Davignon, visconde de Davignon, nascido em Budapest, Hungría, em 4 de outubro de 1932, é um político e empresário belga que. foi vice-presidente da Comissão Europeia de 1981 a 1985. Depois de haver participado das reuniões anuais do Grupo de Bilderberg desde 1974, tornou-se seu presidente honorário em 1999, cargo que continua desempenhando na atualidade.

6 Pilar Urbano, jornalista e escritora espanhola que.nasceu em Valencia, em 1940, atualmente publica suas colaborações no jornal espanhol El Mundo.

7 Richard Holbrooke é um diplomata norte-americano que, como enviado estadunidense, negociou o cessar-fogo na Bósnia e em Kosovo, nos anos 1995-1996. É o enviado especial de Obama ao Afeganistão e ao Paquistão. Criou o termo Af-Pak para designar um teatro de operações único, englobando Afeganistão e Paquistão.

Fontes: Público, El País, The Guardian, Xornal de Galicia, Wikipedia, Noticias de Gipuzkoa, Rebelión, La Voz de Galicia.

Randy Alonso Falcón é jornalista cubano, diretor do programa "Mesa Redonda" da Televisão Cubana e do sítio Cubadebate